Clara de Sousa
O meu nome é Clara Sousa, sou casada, tenho duas filhas e um neto. Somos uma família Cristã atual, empenhada na sociedade e sempre dedicada em acolher os outros e a sermos espelho de Cristo no mundo que nos rodeia.
Há já vários anos que convivo com alguma regularidade com a Casa Mãe do Gradil. O primeiro contacto mais sério com a Instituição foi com o desenvolvimento de um projeto de artes plásticas e ocupação de tempos livres que me levava a passar uma tarde por semana com as várias meninas acolhidas pela Casa Mãe A partir daí desenvolvi um carinho muito grande pelas meninas e pela Instituição que as acolhe. Apesar de nos últimos tempos este encontro não se fazer com tanta regularidade, fiquei sempre muito sensibilizada para os problemas daquelas crianças e jovens que ali beneficiam de um acolhimento e inserção social senão a ideal pelo menos a melhor possível.
Penso que a Casa Mãe do Gradil desempenha um papel importantíssimo na vida destas meninas, acolhendo-as o melhor possível e ajudando à sua integração saudável na sociedade. Lembro muitas vezes as cinco moradias que funcionam como pequenos núcleos familiares de uma grande família, da madrinha existente em cada uma delas, tentando de alguma forma implementar a ordem, introduzir regras e com o seu carinho mostrar que é possível a convivência sã entre todas, dentro daquela casa, através da distribuição de tarefas e responsabilidades. Sem dúvida que estas crianças já têm uma história de vida que provavelmente as marcará para sempre e que a dureza do mundo se impôs demasiado cedo nos seus corações. Mas acredito que convivendo com outras meninas com problemas mais ou menos semelhantes, de igual para igual, sem sentimentos de inferioridade possam acreditar num futuro com esperança em que as oportunidades não são determinadas à partida mas que vão sendo construídas, com dedicação e trabalho diário.
A Casa Mãe não apaga memórias e não penso que seja esse o objetivo. O passado e o presente destas meninas são respeitados e conversados com técnicos próprios e que ajudam a integrar, cada menina à sua maneira, tentando construir mulheres adultas confiantes que conhecendo as dificuldades do seu passado enfrentam o futuro com mais confiança. Penso que Casa Mãe é um local que lhes permite a tranquilidade e o apoio que necessitam para prosseguirem com os seus estudos, ajudando-as a crescer com valores e objetivos de vida orientados para a valorização do ser humano na sua dignidade.
Provavelmente na maior parte das meninas o sofrimento deixará marcas para sempre. Mas existem dificuldades, obstáculos e desafios dolorosos a ser ultrapassados, em todas as famílias, que também deixam as suas marcas Acredito que o sofrimento em si mesmo não é um bem mas pode ajudar-nos a crescer.